Caciques emitem nota de repúdio contra procurador do MPF e pedem arrendamento da terra indígena Maraiwatsédé a fazendeiros
No documento, os líderes indígenas relembram o histórico de luta e conflitos dos Xavante para a retomada do território de Maraiwatsédé, em 2012
Lideranças indígenas das 14 aldeias da etnia Xavante que vivem na TI Maraiwatsédé, município de Alto Boa Vista fizeram uma manifestação e assinaram carta de repúdio contra o procurador do Ministério Público Federal (MPF) Everton Pereira Aguiar Araújo, no último domingo (11).
Na carta, caciques e cacicas que representam mais de 2 mil indígenas que vivem nas aldeias chamam a atenção para o risco que enfrentam quanto à falta de alimentação adequada e também a escassez de medicamentos, principalmente para crianças e idosos.
“As atitudes do procurador são contrárias aos nossos interesses. São preconceituosas, gananciosas, invejosas e até rancorosas. Estamos em perigo iminente de morte. Crianças, idosos, se não toda a comunidade está correndo o risco de ficar sem alimentação. As ações do Procurador Everton pode nos levar ao extermínio”, relatam os indígenas.
No documento, os líderes indígenas relembram o histórico de luta e conflitos dos Xavante para a retomada do território de Maraiwatsédé, em 2012, que comporta mais de 165 mil hectares, nos municípios mato-grossenses de Alto Boa Vista, Bom Jesus do Araguaia e São Félix do Araguaia.
“Recebemos a Terra Indígena Maraiwatsédé com 70% de pastagem, sem animais para consumo, com minas de águas poluídas por agrotóxicos, sem nossas raízes, sem alimentação, sem medicamentos, sem saúde básica, sem qualquer condições digna. Todas as tentativas das lideranças indígenas de buscar ajuda alimentícia foram em vão, inclusive junto à FUNAI, que nunca tem orçamento (todo o orçamento da FUNAI é gasto com administrativo)”, relembram os caciques.
Diante da falta de assistência básica da Funai, em 2018 os indígenas buscaram parcerias com pecuaristas da região para o pasto da TI de Maraiwatsédé. Os recursos arrecadados eram divididos para todas as aldeias para compra de alimentação e medicamentos adequados para as famílias Xavante.
“Nossa história beira o desumano. Somos tratados como resto, bichos e marionetes do sistema. Nos devolveram a terra. Falam que a terra é nossa, mas não é. Tem o nosso nome, mas não podemos fazer nada. Somos enfeites e assim o Procurador quer que permaneçamos. Tenhamos uma área, que na verdade é uma floresta intocável da União. Uma vergonha!”, relatam.
Diante das parcerias estabelecidas para arrendamento apenas do pasto, os caciques buscaram ajuda da Regional da Funai de Ribeirão Cascalheira, que se comprometeu a elaborar um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) junto ao Ministério Público Federal (MPF), fato que nunca aconteceu.
Passados quatro anos da parceria, agora em 2022, o procurador Everton Pereira Aguiar Araújo entrou com várias ações (penais e civis públicas) contra as parcerias. “O que o Procurador quer não é cuidar do povo indígena. É massacrar a gente. Nos exterminar. Devemos ficar na nossa terra, sem alimento, sem trabalho, sem ajuda, sem medicamento. Sem nada! Repudiamos essa atitude mesquinha”, publicaram as lideranças, na carta.
Falta de medicamentos
Na última semana, os caciques também fizeram uma manifestação contra a chefia do Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI) Xavante. Eles mostraram a falta de medicamentos no posto de saúde que fica na aldeia de Maraiwatsédé o cobraram atenção da Funai.
Segundo os caciques, há mais seis meses não há médico nos plantões e faltam medicamentos básicos como dipirona, paracetamol e ibuprofeno. Mesmo com as solicitações de urgência para o envio dos remédios, a quantidade distribuída não é suficiente.
Liberdade FM - Olhar Alerta