Bolsonaro pediu ajuda de Biden em corrida eleitoral contra Lula durante reunião bilateral
Presidente brasileiro retratou seu oponente nas eleições de 2022 como um perigo para os interesses dos EUA, afirmaram fontes
O presidente Jair Bolsonaro pediu para o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, ajudá-lo em sua tentativa de reeleição durante a reunião bilateral entre ambos, na última quinta-feira (9). No encontro, que aconteceu às margens da Cúpula das Américas, em Los Angeles, o líder brasileiro retratou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva como perigoso para os interesses dos EUA, segundo fontes com conhecimento sobre a conversa.
Durante a reunião, Biden destacou a importância de preservar a integridade do processo eleitoral democrático do Brasil e, quando Bolsonaro pediu ajuda, o líder americano mudou de assunto, disse uma das pessoas. Os comentários do presidente brasileiro ecoaram outras de suas declarações recentes sobre Lula, segundo as fontes que pediram anonimato por se tratar de uma conversa privada.
O Palácio do Planalto não respondeu imediatamente a um pedido de comentário. A assessoria de imprensa da Casa Branca, por sua vez, se recusou a comentar também.
A reunião de quase uma hora, a primeira desde a eleição de Biden em 2020, ocorreu majoritariamente a portas fechadas. Mais tarde, Bolsonaro disse a repórteres que ele e Biden “falaram superficialmente” sobre o pleito de outubro no Brasil. Em comentários públicos antes do encontro, Biden afirmou que o Brasil tem uma democracia vibrante e inclusiva, além de instituições eleitorais fortes.
Os EUA têm uma política permanente de não escolher um lado nas eleições de outras nações, dizendo que o voto deve refletir os desejos da população local. Ainda assim, os presidentes dos EUA muitas vezes se desviaram dessa máxima.
O ex-presidente Barack Obama, por exemplo, expressou sua oposição ao Brexit antes do plebiscito. E a História está repleta de sucessivos governos americanos apoiando líderes estrangeiros que estavam concorrendo às eleições — como Boris Yeltsin na Rússia, na década de 1990.
Bolsonaro, um aliado próximo do ex-presidente dos EUA, Donald Trump, voltou a expressar dúvidas sobre a legitimidade da vitória eleitoral de Biden nesta semana. Na terça-feira (7), o líder brasileiro disse que houve fraude generalizada no pleito americano de 2020, repetindo as teorias da conspiração e a retórica falsa que Trump promove há meses.
Os comentários ecoaram nas tentativas recorrentes de Bolsonaro de pôr em xeque a lisura do sistema de votação eletrônica no Brasil às vésperas da disputa presidencial de outubro. O atual presidente está atrás nas pesquisas mais recentes: uma delas, divulgada na quarta-feira (8) pelo instituto Quaest, mostra Lula com 47% das intenções de voto, contra 29% de Bolsonaro.
O mandatário brasileiro foi um dos últimos líderes mundiais a parabenizarem Biden por sua vitória, e as relações entre as duas maiores economias das Américas esfriaram desde então. A reunião de quinta-feira (9), contudo, parece ter quebrado o gelo, com Bolsonaro descrevendo o encontro como “sensacional” e “muito melhor” do que ele esperava.
Em comentários à “CNN Brasil”, o presidente do Brasil se disse “espantado” com seu colega americano. Após a foto oficial dos líderes na conclusão da cúpula na sexta-feira (10), Biden permaneceu conversando com Bolsonaro, tocando o líder brasileiro nas costas. Bolsonaro, por sua vez, pôs a mão no ombro do democrata.
Lula, por sua vez, teve um bom relacionamento com o presidente dos EUA, Barack Obama, de que Biden foi vice, durante os quase dois anos em que os dois estiveram simultaneamente no poder. Falando de Lula durante uma cúpula do G20 em 2009, Obama disse: “Este é o meu homem” e “Eu amo esse cara”.
O Globo – Liberdade FM