Indígenas invadem Casai de Campinápolis e liberam parentes infectados do Covid-19
A invasão está sendo tratada como uma manifestação dos indígenas devido a falta de apoio que eles estão tendo durante a pandemia
Pelo menos dez índios xavantes invadiram e fecharam a entrada principal da Casa de Apoio a Saúde Indígena (Casai) na cidade de Campinápolis, a 200 km de Barra do Garças, na última segunda-feira (13), enquanto outros invadiram a ala de isolamento e “deram alta” a vários pacientes que estavam internados infectados como Covid-19.
A ação ocorreu no inicio da manhã enquanto era trocado o turno da equipe de saúde que trabalha no local, durando até às 15h30min.
Segundo informações exclusivas repassadas a reportagem do Noticia dos Municípios, no momento em que os xavantes invadiram o recinto, apenas uma técnica em enfermagem, que teria chegado mais cedo para trabalhar, recebeu permissão de permanecer dentro da unidade de saúde. Os outros funcionários que chegavam para trabalhar eram impedidos de entrar.
De acordo informações pelo menos 28 indígenas estavam internados na Casai, todos contaminados com coronavírus. Com a invasão, oito deles deixaram o local e retornaram para suas aldeias, mesmo contaminados e sem concluir o tratamento.
Um áudio enviado por uma servidora a outra pessoa no momento da invasão está circulando nas redes sociais da região. Nele, a servidora demonstrava nervosismo e preocupação ao explicar detalhes do ocorrido. A expectativa que paira sobre os ares da cidade é que esse grupo poderá infectar toda a aldeia e transformá-la em caos social em meio aquela comunidade.
A versão usada pelo grupo de indígenas que defendem a mudança na administração local da Casai que invadiu a unidade de saúde seria de que seus parentes não são animais para ficar em isolamento. De acordo a Organização Mundial de Saúde (OMS) o isolamento de qualquer pessoa com Covid-19 se faz necessário, para que o vírus não se espalhe as demais pessoas.
Já o grupo ligado à gestão da Casai disse que o motivo da revolta prende-se ao fato das esposas de alguns deles terem sido afastadas do trabalho pela empresa terceirizada de nome Congem, além de possuírem baixa imunidade, sendo passíveis de contrair o Covid-19 com mais facilidade.
Entre as afastadas estão Fabiola Retsiwatsinhu que trabalhava no serviço de limpeza e Clemência Xavante Wautomazarero, que era ajudante de cozinha na própria Casai.
Outras informações reiteram que o afastamento das servidoras indígenas ocorreu com objetivo de resguardar a própria saúde delas. Nossa reportagem não conseguiu contato com os responsáveis pelas empresa terceirizada.
De acordo com o que apuramos, existem as suspeitas de que o mesmo grupo esta preparando outro fechamento da Casai, e que dessa vez somente irão deixar o local após “negociar” pessoalmente com o coordenador do Casai, Lino Tsre Ubudzi e com o presidente em exercício do Condisi.
No momento da invasão os revoltados foram atendidos por um indígena de nome Jonatas Xavante, que é funcionário da Casai e presta serviço no controle de alimentação do órgão.
Nossa reportagem apurou também que na próxima segunda-feira (20) estará em Campinápolis um representante da Secretaria Nacional de Saúde Indígena de Brasília, de nome Dr. Robson para se inteirar de perto da situação.
O outro lado
Nossa reportagem entrou em contado com o chefe da Casai em Campinápolis, Lino Tsere Ubudzi Moritu, que disse que estava em sua aldeia em quarentena após contrair o coronavírus, mas confirmou a invasão na Casai. Ele disse que ao chegar no local encontrou alguns indígenas bêbados promovendo aglomeração e os classificou de “grupinho”, mas que conseguiu contornar a situação e acalmar os ânimos evitando atrito maior.
Lino destacou ainda que ele próprio já havia pedido sua demissão da chefia da Casai, mas que houve entendimento por parte das lideranças indígenas para ele permanecesse no cargo pelo fato de ser o representante legal da comunidade junto ao órgão governamental.
Segundo o chefe da Casai quando referente aos indígenas contaminados com Covid-19 que voltaram para suas aldeias e pararam o tratamento, caso alguns algum deles venham a óbito, ele próprio como agente do governo irá representar judicialmente aqueles parentes que realizaram a “algazarra” inclusive por desobediência às determinações impostas pelo governo, que segundo diz, para o próprio bem dos indígenas.
Por fim ele esclareceu ainda que existem recomendações por parte do Ministério Público Federal (MPF), Distrito Sanitário Indígena (Dsei-Xavante) e do Ministério da Saúde (MS), através da Secretaria Especial de saúde indígena determinando o distanciamento social e isolamento sanitário de índios contaminados com o Covid-19.
Liberdade FM / Semana 7