Brasil pode enfrentar até 12 dias de racionamento de água por ano até 2050, aponta estudo
Um estudo recente conduzido pelo Instituto Trata Brasil, em parceria com a consultoria Ex Ante Consultoria Econômica, revela projeções preocupantes para o abastecimento de água potável no país até o ano de 2050. No cenário mais provável, o Brasil poderá enfrentar, em média, cerca de 12 dias de racionamento de água por ano. Em regiões mais vulneráveis — como partes do Nordeste Region e do Centro‑Oeste Region —, esse índice pode ultrapassar 30 dias ao ano.
Principais achados
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A disponibilidade de água tratada deverá sofrer uma restrição média de 3,4% ao ano, o que equivale aos 12 dias de racionamento estimados para o Brasil como um todo.
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Em regiões com menor volume de chuvas e mais suscetíveis aos efeitos das mudanças climáticas — como o Nordeste e Centro-Oeste —, o estudo projeta que o racionamento poderá exceder 30 dias por ano.
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O aumento da temperatura média das cidades brasileiras, estimado em cerca de 1 °C de aumento da máxima e 0,47 °C da mínima, acentua a aridez, diminui o número de dias de chuva e eleva o consumo per capita de água.
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Para cada grau Celsius adicional na temperatura máxima, o consumo per capita de água tende a subir em aproximadamente 24,9%.
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As perdas no sistema de distribuição continuam alarmantes: cerca de 40,3% da água tratada não chega aos consumidores por vazamentos, furtos ou falhas operacionais.
O que isso significa na prática
Esse prognóstico significa que, se não forem adotadas políticas eficazes de redução de perdas, adaptação às mudanças climáticas e gestão eficiente dos recursos hídricos, cada morador poderá passar em média quase duas semanas por ano sem abastecimento contínuo, e em regiões mais críticas isso poderá subir para um mês ou mais de racionamento. Em termos de impacto:
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Redução do fornecimento regular de água potável para residências, afetando higiene, saúde e qualidade de vida.
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Aumento nos custos de infraestrutura para lidar com os déficits: mais reservatórios, mais sistemas de bombeamento, mais investimentos em saneamento.
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Potencial de maiores efeitos sobre agricultura, pecuária e setor produtivo nas regiões mais vulneráveis, agravando desigualdades regionais.
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Pressão sobre os mananciais disponíveis, demandando maior eficiência no uso e reutilização da água, bem como aumento no risco de desertificação ou semiárido em certas regiões.
E agora? Quais são os caminhos de resposta
Segundo os autores do estudo, há algumas frentes prioritárias:
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Redução de perdas nos sistemas de distribuição: se as perdas fossem reduzidas para, por exemplo, 25% da água tratada (em vez dos ~40% atuais), já haveria uma economia considerável de volume e redução da necessidade de ampliar captação.
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Melhora no saneamento básico: a universalização do abastecimento de água tratada e coleta/tratamento de esgoto contribui para a eficiência hídrica, além de trazer benefícios econômicos e sociais.
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Planejamento climático-hídrico e adaptação: considerando os cenários de mudança no clima, é preciso incorporar estratégias para lidar com menos chuvas, mais calor, eventos extremos e recarga hídrica reduzida.
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Gestão integrada dos recursos hídricos: combinar oferta, demanda, reutilização, proteção de mananciais e infraestrutura de modo planejado.
Conclusão
O alerta emitido por esse estudo é claro: o Brasil ainda conta com recursos hídricos abundantes em muitas regiões, mas a combinação de crescimento populacional e econômico, mudanças climáticas e distribuição irregular dos recursos já coloca o abastecimento em risco. Com previsão de até 12 dias de racionamento em média nacional — e mais de 30 dias em algumas regiões — a urgência em agir se torna evidente.
/ G1
