Café e carne bovina: como tarifas de Trump podem afetar exportações do Brasil aos EUA

Para especialistas do setor, bens alimentícios de primeira necessidade, como café e carne, não devem sofrer com grande taxação

O agro brasileiro acompanha com atenção a agenda do novo governo de Donald Trump nos Estados Unidos e os impactos de suas decisões no mercado global. Com a divulgação de plano econômico que prevê elevação das taxas de importação para os EUA, o Brasil vive a expectativa de poder manter o volume dos principais itens agro exportados ao país: cafécarne bovinacelulose e suco de laranja.

Hoje, os Estados Unidos são o segundo principal destino dos produtos agropecuários brasileiros, segundo dados do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa). Em 2024, as exportações para os EUA atingiram U$ 12,092 bilhões, respondendo por 7,4% do total exportado no Brasil no ano.

No plano econômico divulgado durante sua campanha, Trump prometeu impor uma alíquota de 60% ou mais às importações de produtos chineses, e taxas de 10% a 20% na entrada de mercadorias de outros países.

Como essas tarifas podem impactar o agro brasileiro? Analistas do setor e algumas associações já se manifestaram sobre o assunto. Em comum, eles têm a visão de que é muito difícil que Trump crie sobretaxas para itens alimentícios de primeira necessidade, como o café e a carne bovina, pois haveria grande risco de aumento de preços ao consumidor nos EUA.

Além disso, os especialistas ressaltam que, a princípio, o comércio entre China e EUA deve ser o mais afetado. Se a China responder ao protecionismo dos EUA também taxando os produtos agrícolas americanos, cria-se a possibilidade do Brasil passar a vender mais produtos para o país asiático, como sojamilho e carne bovina.

Em entrevista ao Valor, representantes da indústria brasileira de celulose e papel, que tem os Estados Unidos de seus principais mercados, defendem que as políticas de Trump podem provocar rearranjos no comércio internacional, mas dizem acreditar que não devem impactar as exportações nacionais do setor, ao menos por enquanto.

Café

Dados do Conselho de Exportadores de Café do Brasil (Cecafé) apontam que os EUA foram o principal destino das exportações do café brasileiro em 2024. No ano passado, foram exportadas 8,131 milhões de sacas de café para os norte-americanos, o que representa 16,1% de todas as exportações de café do Brasil e marca um crescimento de 34% frente ao ano anterior.

Diante de seu grande mercado consumidor e sem produzir o grão, o Cecafé acredita que os Estados Unidos devem prezar pela segurança econômica e não implementar medidas que acarretem aumento de custo para a população, mesmo diante de um plano econômico que visa reestabelecer as relações de comércio exterior.

Carne Bovina

O ano de 2024 foi histórico para o setor de carne bovina brasileiro. Com embarque total de 2,89 bilhões de toneladas, o volume exportado cresceu 26% e bateu recordes. O valor movimentado cresceu 22% e atingiu a marca de U$ 12,8 bilhões, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) compilados pela Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec).

Os Estados Unidos foram o segundo maior destino da carne bovina brasileira, atrás apenas da China. Para o país norte-americano foram exportadas 229 mil toneladas, que somaram U$ 1,34 bilhão. Para a China, foram enviadas 1,33 milhão de toneladas, com valor de U$ 6 bilhões.

A expectativa da Abiec é que esses mercados sejam mantidos, enquanto a exportação pode crescer para novas fronteiras.

   “Foi um ano histórico para a indústria da carne bovina nacional, para o setor pecuário e para o Brasil. A contribuição decisiva para o saldo positivo da balança comercial é uma prova disso, e já vinha sendo esperada. Mesmo sendo ainda muito cedo para uma previsão, acredito que 2025 tem tudo para batermos o recorde em exportações e também em faturamento”, comemora o presidente da Abiec, Roberto Perosa.

   “Nós temos mercados a serem abertos que representam grande fatia do mercado consumidor mundial de carne bovina, dentre eles o Japão, o Vietnã, a Turquia, e a Coreia do Sul. Alguns deles estão em diferentes estágios de negociação. Mas, juntamente com o governo brasileiro, com o Ministério da Agricultura, vamos batalhar para que este ano de 2025 seja o ano que nos dê a oportunidade de levar a carne brasileira a esses destinos”, conclui.

Fonte: Globo Rural

Redação: Liberdade FM