MPF investiga contaminação por agrotóxicos no Rio Araguaia e constata risco à saúde humana e ambiental
Em um movimento crucial para a defesa do meio ambiente e da saúde pública, o Ministério Público Federal (MPF) abriu inquérito civil para investigar os alarmantes níveis de contaminação por agrotóxicos nas águas do Rio Araguaia. A medida se baseia em um estudo científico publicado na revista Environmental Advances, que detectou a presença de substâncias nocivas em concentrações acima dos limites considerados seguros para o consumo humano.
O estudo, realizado entre novembro de 2018 e março de 2019, coletou amostras em oito afluentes do Rio Araguaia, nos trechos médio e alto da bacia hidrográfica. A análise revelou a presença de oito agrotóxicos comumente utilizados em lavouras e áreas de pastagem no Brasil, com destaque para herbicidas, inseticidas e fungicidas.
As porções média e alta do Rio Araguaia apresentaram níveis preocupantes de atrazina, carbendazim, cianazina, imidacloprida, 2,4-D, clomazone, clorpirifós etil e imazalil, superando os limites estabelecidos pela União Europeia. Entre esses agrotóxicos, a atrazina e o clomazone se destacaram por sua presença em todas as amostras analisadas.
A atrazina, um dos herbicidas mais utilizados no mundo, principalmente em culturas de cana-de-açúcar e milho, é conhecida por seus efeitos desreguladores endócrinos. Estudos comprovam que a substância pode causar feminização e castração em anfíbios e outros vertebrados, além de inibir o crescimento ovariano, feminizar, provocar anomalias no desenvolvimento e reduzir a produção de descendentes em crustáceos.
O clomazone, outro herbicida de uso frequente no controle de plantas daninhas, também apresenta efeitos adversos para diversas espécies. Seu uso tem sido associado a danos em insetos aquáticos, peixes, anfíbios e macrófitas aquáticas, organismos que não são o alvo do controle de pragas.
A água contaminada por agrotóxicos representa um sério risco à saúde humana. Cinco dos oito pesticidas detectados no estudo estão associados a doenças crônicas como câncer, defeitos congênitos e distúrbios endócrinos. Entre os problemas de saúde relacionados à exposição à atrazina estão desregulação hormonal, irritação do trato respiratório, da pele e dos olhos, enquanto o clomazone pode afetar o sistema reprodutivo e o desenvolvimento humano.
A legislação ambiental brasileira não estabelece limites máximos de concentração de agrotóxicos na água. No entanto, quando comparados aos valores recomendados pela Comunidade Europeia, os resultados do estudo indicam que as águas superficiais em muitas das sub-bacias estudadas podem não atender aos padrões de potabilidade.
Em resposta a ofícios do MPF, as Secretarias Estaduais de Meio Ambiente de Mato Grosso, Goiás, Tocantins e Pará informaram não dispor de programas de monitoramento da qualidade da água que contemplem a análise de agrotóxicos. Essa omissão agrava o quadro de incerteza sobre a real extensão da contaminação e seus impactos na saúde pública e ambiental.
Liberdade FM/CenarioMT