Empaer apresenta relatório de estiagem em vários setores ligados à agricultura

RELATÓRIO ESTIAGEM N° 02/2023 – EMPAER - Empresa Mato-grossense de Pesquisa, Assistência e Extensão Rural.

SITUAÇÃO da ESTIAGEM 01 a 15 de dezembro 2023

 

A estiagem se prolonga e continua causando perdas na agricultura e pecuária do município de Canarana estado de Mato Grosso. A extensão é tamanha que a Empresa Mato- grossense de Pesquisa, Assistência e Extensão Rural (Empaer) calcula, até o momento, cerca de 90% das propriedades rurais são atingidas pelos efeitos da estiagem, além de famílias com dificuldades de acesso à água. Conforme relatos os maiores prejuízos são na cultura da soja, milho, horticultura, fruticultura, pecuária, apicultura e piscicultura. Deixarão de serem colhidos milhares de toneladas de soja com perdas bilionárias diretas para os produtores e indiretas para toda economia municipal com reflexo negativo para o PIB.

 

PANORAMA CLIMATOLÓGICO QUINZENAL E PROJEÇÃO

Conforme se observa nos mapas oficiais, apresentados em Boletins Integrado Agro meteorológico, apesar da ocorrência de chuvas na primeira quinzena do mês de dezembro, as precipitações tem sido irregulares e os volumes registrados oscilaram entre 08 e 42 mm em algumas partes do município, com valores inferiores a 5 mm em algumas localidades. Por sua vez, a previsão para os próximos dias não apresenta volumes de chuvas bons, especialmente em regiões onde a estiagem continua mais grave, ou seja, na região do Kuluene onde tivemos pequenas precipitações de chuvas, porém irregulares. Dados de informações climáticas advertem para uma nova onda de calor para os próximos dias.

 

EFEITOS DA SECA NO MUNICIPIO E DAS SUAS MICROREGIÕES

A seca prejudica as lavouras do município. Segundo a Empresa Mato-grossense de Pesquisa, Assistência e Extensão Rural (Empaer), a cultura da soja implantadas no final de setembro a meados de outubro, estima-se quebra de produtividade em média 44% até o momento, tendo algumas propriedades com perdas de até 58%. O impacto financeiro da quebra de safra será de bilhões no estado e no município. O plantio da soja no município teve

um avanço e chegou a 90% da área total estimada em 320 mil hectares com estagnação no plantio. Tendo lavouras em fase de desenvolvimento, floração, enchimento de vagens e também em fase de maturação (com antecipação de ciclo) com a previsão da redução de produtividade em comparação com a expectativa inicial. Porém este senário pode se alterar caso as condições de clima (chuva) venha a se normalizar principalmente em áreas onde a cultura esteja em fase de desenvolvimento vegetativo.

 

EFEITOS DIRETOS NOS CULTIVOS E CRIAÇÕES DA AGROPECUÁRIA: SOJA

Conforme a  Empresa Mato-grossense de Pesquisa, Assistência e Extensão Rural (Empaer), o número de produtores de soja atingidos pela seca chega a totalidade dos plantadores. A maioria dos cultivos apresenta plantas com porte reduzido, perda de folhas, abortamento floral e queda de legumes e dificuldades da planta da soja fazer enchimento do grão. Atualmente, no município que apresentava replantes em 15% da área inicialmente plantada, chegando a ser feito até 2 replantios em alguns casos está completamente estagnada, sendo que produtores estão tomando a decisão em não realizar mais plantios e destruição total de algumas áreas já pensando em culturas de safrinha. As chuvas registradas em algumas partes do município entre os dias 01 a 15 de dezembro, ocorreram de forma localizadas entre as fases de grande importância para estabelecimento das lavouras e a definição da produtividade, sendo que atualmente 67% das áreas encontravam-se em florescimento estão em fase de enchimento de grãos no entanto, já existe a expectativa de diminuição da produção em relação à projeção inicial que estima-se média geral de produção da soja em 35 sacas por hectar, tendo algumas áreas que poderão apresentar produção de 42 a 50 sacas por hectar.

 

MILHO

Segundo a Empresa Mato-grossense de Pesquisa, Assistência e Extensão Rural (Empaer), pequenos produtores de milho em nível de agricultura familiar foram ou estão sendo atingidos pela seca. Até o momento, no município de Canarana apresenta perda média superior a 65% da produtividade inicialmente estimada em áreas plantadas que estão em germinação/desenvolvimento vegetativo. As chuvas das últimas semanas não permitiram uma

reação satisfatória no desenvolvimento da cultura, mostrando que a produção inicial de milho para silagem terá redução no volume e qualidade do material que se pretende ensilar.

 

OLERÍCOLAS

Além dos produtores, os consumidores também já estão sentido o reflexo da estiagem. Nas feiras e mercados, os preços de muitas verduras como folhosas e tomates disparou. Segundo dados da  Empresa Mato-grossense de Pesquisa, Assistência e Extensão Rural (Empaer) a onda extrema de calor e a falta de chuvas agravou ainda mais a situação de muitos olericultores que sentem os efeitos da estiagem pois, mesmo para os produtores que tem sistemas de irrigação (melão, melancia), começou faltar água nos reservatórios, sem falar nos cultivos a campo, bastante prejudicados.

Reflexos já são sentidos nas áreas de plantio de mandioca e batata doce, onde a falta de chuvas e altas temperaturas tem feito perdas com morte de plantas.

 

PASTAGENS

As pastagens, com poucas exceções, estão praticamente perdidas. Nos locais com irrigação, o consórcio de pastagens anuais e perenes de verão apresentam bom resultado. Isso reforça a importância de investimentos na área de irrigação. As queimadas seguem preocupando. Nas localidades que apresentaram precipitações nos últimos dias, foi retomado o plantio das pastagens de verão e também iniciou a recuperação das pastagens já implantadas, porém com ataque severo de lagartas que vem provocando danos altíssimos nas gramíneas. Contudo, o pleno desenvolvimento dessas áreas dependerá da continuidades das chuvas. Segundo Empresa Mato-grossense de Pesquisa, Assistência e Extensão Rural (Empaer) a perda estimada nas pastagens cultivadas estão em torno de 95%.

 

BOVINUCULTURA DE CORTE

Nesta atividade, seguem os problemas na redução do crescimento, do bem-estar e da saúde e o aumento do estresse, ou seja, resulta em consideráveis impactos negativos nos fatores zootécnicos e econômicos com perdas de ganho de peso dos animais. A oferta de pasto segue baixa e seguem aumentando os relatos de morte de animais por escassez de alimento

e/ou água. Na região administrativa da Empresa Mato-grossense de Pesquisa, Assistência e Extensão Rural (Empaer) de Canarana, as precipitações não foram suficientes para propiciar rebrote e crescimento das pastagens que agora são acometidas por ataque de lagartas. Assim, os animais seguem perdendo peso e aumento de relatos de morte de animais.

 

BOVINOCULTURA DE LEITE

A situação segue preocupante nas localidades onde não foram registradas a ocorrência de chuvas ou as mesmas foram insuficientes. Na regional administrativa da EMPAER de Canarana, em praticamente todo o município, houve queda na produção de leite. Relatos de falta de água e alimento. Já as precipitações ocorridas não favorecerem as pastagens cultivadas e por consequência, a atividade leiteira. Já a falta de alimento nas propriedades tem forçado a venda de animais para o abate. O aumento da oferta de animais ocasionou uma queda de preços para a categoria de bovinos de leite para descarte. A estiagem afeta a cada dia de forma mais intensa estabelecimentos produtores de leite no município, onde se estima uma perda média na produção diária de leite de 50% na produção referente a períodos normais de clima, resultando em baixa disponibilidade de leite e derivados oriundos de agricultura familiar.

 

APICULTURA

Na região administrativa da Empresa Mato-grossense de Pesquisa, Assistência e Extensão Rural (Empaer) de Canarana, as baixas precipitações e as altas temperaturas registradas, reduzem as floradas bem como interferem nas atividades das abelhas. No município, a alimentação das abelhas está disponível apenas nas áreas de vegetação nativa. Na região, devido às temperaturas mais altas registradas nos últimos dias, foi observada morte de abelhas, baixa atividade de forrageamento dos enxames, muito embora as floradas ainda estejam restritas a vegetação nativa e às lavouras de soja. As últimas precipitações ocorridas propiciaram o surgimento de novas floradas, no entanto, a estiagem prolongada, refletiu numa queda de 40% da produção de mel, tendo colmeias produzindo pouco mais que 3 kg de mel. As altas temperaturas e a seca afeta gravemente os enxames; as rainhas tem apresentado diminuição na postura, devido à falta de alimento. Observa-se nas propriedades rurais, através

de relato dos produtores o desaparecimento de enxames de abelhas, onde a suspeita é reflexo das latas temperaturas e falta de alimento.

 

FRUTICULTURA

A estiagem também provoca perdas na fruticultura familiar de subsistência, a estimativa de redução está entre 80% da produção em relação ao ano de 2022. Em Canarana, as variedades de acerola, abacaxi, banana, pitaya, limão, laranjas são as mais afetadas, com tamanhos e volume de frutas menores. Observa-se as perdas maiores provocadas por problemas ocorridos na floração e agravados pela falta de chuvas e altas temperaturas.

O clima seco reduz o tamanho das frutas, o que também prejudica sua qualidade. Além da falta de água, o calor excessivo deixa as frutas mais amarelas e queimadas do sol.

 

PISCULTURA E PESCA ARTESANAL

As precipitações ocorridas nos últimos dias, bem como as temperaturas mais altas, não favorecem a atividade. Na região administrativa da EMPAER - MT de Canarana, as chuvas não melhoraram os níveis dos açudes e nem dos rios do município. Na região de abrangência das atividades Empresa Mato-grossense de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Empaer) de Canarana, as temperaturas mais altas estão provocando morte de peixes fato que pede-se aumento de monitoramento dos tanques, principalmente em relação à qualidade da água e alimentação. Já a falta das chuvas aumentam os impactos da redução dos volumes nos tanques e rios, provocando falta de oxigenação o suficiente para sobrevivência dos peixes. Além disso, a temperatura da água dos tanques segue acima da ideal. Com relação à pesca artesanal, no município de Canarana - MT, são graves os prejuízos. É estimada a perda de mais de 80% de quebra nos criatórios artesanais de consuma familiar. Na regional administrativa da EMPAER - MT de Canarana, o nível atual do volume de água nos rios é abaixo do normal, dificultando a atividade da pesca e laser.

 

IMPACTOS DA SECA NO BEM-ESTAR PSICOLOGICO DE PRODUTORES RURAIS E AGRICULTORES FAMILIARES

Para a EMPAER – MT unidade local de Canarana as secas são desastres que se manifestam tanto em forma de declínio econômico e rápida mudança ambiental, quanto através de consequências prolongadas e devastadoras no estilo de vida e bem-estar das comunidades rurais. O bem-estar psicológico está associado a processos positivos relacionados à saúde e a capacidades essenciais para o enfrentamento dos desafios da vida. Dentre essas capacidades estão a auto aceitação, relações positivas com os outros, autonomia, domínio sobre o ambiente, propósito na vida e crescimento pessoal.

Em atividades humanas como a agricultura e pecuária, existe uma elevada dependência das condições climáticas e da disponibilidade de recursos naturais, ao mesmo tempo em que está presente a dificuldade de controlar as condições ambientais Nesse sentido, o domínio sobre o ambiente pode mostrar-se prejudicado, especialmente para aquelas populações com menor acesso a recursos e tecnologias, como é o caso dos agricultores familiares.

A agricultura familiar trata-se de um termo genérico que abarca uma grande diversidade de formas sociais as quais têm em comum entre si o fato de que a família, ao mesmo tempo em que detêm a propriedade dos meios de produção, assume o trabalho no estabelecimento produtivo. Nesse sentido a Empresa Mato-grossense de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural destaca que a produção agrícola não é apenas um negócio de empresas (agronegócio), mas a base da vida de muitas famílias rurais, o sustento e a sobrevivência por meio de uma atividade com alta dependência das condições climáticas.

Evidencia-se que a seca apresenta reflexos no bem-estar psicológico através dos sentimentos de desânimo, insegurança quanto ao futuro, impotência, tristeza, preocupação, estresse e prejuízos. Por outro lado, as secas estão entre os desastres que apresentam impactos psicossociais significativos e que vão desde a necessidade de adaptação frente à escassez de recursos, até consequências crônicas no longo prazo. São exemplos de impactos, a escassez de água e alimentos, prejuízos agrícolas e mudanças na rotina diária, os quais requerem estratégias adaptativas como o corte de gastos com vestuário, lazer, produtos industrializados, e estudos, bem como racionamento de água e restrições na dieta alimentar. Dentre as consequências crônicas estão o endividamento e a dificuldade de fazer reserva de recursos para enfrentar futuras secas. Para a EMPAER, a relação poderá ir mais além quando analisamos sob a ótica da imagem social do agricultor e a representação social de agricultor pois a mesma está associada a características positivas como produtores de riqueza e de desenvolvimento no campo. Assim, quando ocorre uma frustração de safra, ocorre também a frustração das expectativas da família e, ainda, a frustração de uma expectativa que é social e que pode apresentar reflexos na autoestima dos agricultores, na percepção de auto eficácia e na saúde psicológica. Desse modo, reforçamos a agregar à relevância social e à importância econômica da seca, as suas consequências psicossociais já observadas e sentidas pelas famílias residentes no meio rural.

IMPACTOS ECONÔMICOS INDIRETOS E INDUZIDOS DEVIDO À QUEBRA NA PRODUÇÃO E REDUÇÃO DE RECEITAS DOS PRODUTORES DO SETOR

AGROPECUARIO FRENTE A ESTIAGEM NO VERÃO 2023.

 

Efeitos indiretos da estiagem:

  1. Redução nas vendas do comércio no munícipio;
  2. Menor consumo de combustíveis (diesel);
  3. Diminuição de transportes de cargas/fretes de produtos agropecuários;
  4. Diminuição na arrecadação de impostos pelo Estado e município;
  5. Redução na venda de máquinas, equipamentos e insumos agrícolas;
  6. Aumento dos custos de produção
  7. Redução de empregos no meio rural
  8. Diminuição de trabalho para prestadores de serviços de colheitas, armazenagem, etc;

      9. Menor atividade do complexo agroindustrial oleaginoso;

  1. Menor exportação de soja e outros produtos agropecuários e de serviços portuários;
  2. Problemas para pagamentos de financiamentos bancários, arrendamentos e a fornecedores de insumos, maquinário, combustíveis, etc;
  3. Necessidade de refinanciamentos com prazos adequados para poder plantar a próxima safra;
  4. Renegociação de dívidas com empresas privadas;
  5. Efeitos na qualidade de insumos e tecnologia para próxima safra;
  6. Reflexos em algumas culturas frutíferas para a próxima safra;
  7. Efeitos multiplicadores diversos na macroeconomia do município e estado de MT;
  8. Abandono da atividade agrícola e êxodo rural.

Responsável técnico pelos dados:

 

Empresa Mato-grossense de Pesquisa, Assistência e Extensão Rural (Empaer) – unidade local de Canarana – MT.

Extensionista Rural I – GILDOMAR AVRELLA