Funai atua para promover o conhecimento sobre uso tradicional do fogo em comunidades Xavante no Araguaia
No âmbito do ACT, a Copi/CGMT, em articulação com as Coordenações Regionais da Funai, apoia os processos de formação e contratação dos brigadistas
ACoordenação de Prevenção a Ilícitos (Copi) da Fundação Nacional do Índio (Funai) vem atuando para promover ações sobre o uso tradicional do fogo por comunidades da etnia Xavante, no Mato Grosso. O objetivo é realizar a troca de conhecimentos e experiências entre indígenas e o Centro Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais (Prevfogo) do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), com o intuito de aprimorar as atividades de Manejo Integrado do Fogo (MIF) em áreas Xavante, com foco na prevenção a incêndios florestais.
Entre os dias 16 e 21 de maio, a Funai realizou, em conjunto com o Prevfogo/Ibama, uma ação na Terra Indígena Pimentel Barbosa acerca do uso tradicional do fogo por indígenas Xavante. Pela Funai, estiveram presentes a chefe do Serviço de Gestão Ambiental e Territorial (Segat) da CR Ribeirão Cascalheira e ponto focal de MIF da unidade, Glínia Cardoso, e a servidora da CGMT Priscila Feller. Participaram também servidores do Prevfogo/Ibama, além de anciãos e lideranças indígenas Xavante.
“Tais ações na Terra Indígena Pimentel Barbosa representam uma grande conquista para a Funai, pois se trata de uma demanda cujos esforços se iniciaram lá em 2014. Esses trabalhos, realizados a pedido da fundação, vão ao encontro das solicitações do órgão junto ao Prevfogo/Ibama para que mais ações de prevenção a incêndios sejam realizadas e novas brigadas indígenas sejam implementadas em áreas Xavante, via cooperação entre Funai e Ibama”, destaca Isolde Lando, ponto focal de MIF da Copi/Coordenação-Geral de Monitoramento Territorial (CGMT).
Segundo Glínia, o tema do fogo relaciona-se de forma intrínseca com as manifestações culturais da etnia Xavante. “Apesar da sociedade envolvente tratar o fogo como inimigo, para a comunidade Xavante o fogo é meio de sobrevivência e parte importante de seus rituais e celebrações, como a passagem dos jovens para a idade adulta e os casamentos, marcados pela realização de caçadas com fogo”, destaca a servidora da Funai.
Glínia ressalta também que, em algumas áreas do Cerrado, como nos campos de murundu, o manejo do fogo propicia a grande biodiversidade existente. “Durante a ação, foi possível observar que as atividades de manejo do fogo realizadas anualmente, como as queimas prescritas, contribuem para impedir o acúmulo de combustível florestal em algumas áreas indígenas, que, do contrário, sofreriam incêndios de alta intensidade, em vez de fogo brando”, pontua a chefe do Segat da CR Ribeirão Cascalheira.
“Os Xavante possuem um rico conhecimento sobre o uso do fogo e sobre os ciclos da fauna e flora da região. O regime de fogo diferenciado da etnia pode auxiliar a compreender melhor a ecologia do fogo do Cerrado e indicar novas possibilidades de épocas de queima no bioma, que hoje é direcionado às queimas realizadas entre a metade da estação seca e a metade da estação chuvosa”, comenta o analista ambiental do Prevfogo/Ibama Rodrigo de Moraes Falleiro.
Parceria Funai e Ibama
Por meio do Acordo de Cooperação Técnica (ACT) nº 015/2019 celebrado entre Funai e Ibama é realizado o Programa Brigadas Federais Indígenas (BRIFs-I), que permite a formação de brigadas federais compostas por indígenas capacitados e a execução de ações de prevenção e combate a incêndios florestais. As BRIFs-I são contratadas anualmente por meio de edital elaborado pelo Prevfogo/Ibama, atuando na prevenção a incêndios florestais e no combate ao fogo nas Terras Indígenas contempladas a cada ano via edital. A intenção é que, futuramente, os Xavante também contem com uma BRIF-I.
No âmbito do ACT, a Copi/CGMT, em articulação com as Coordenações Regionais da Funai, apoia os processos de formação e contratação dos brigadistas, descentralizando recursos e disponibilizando servidores para acompanhar e participar das formações e operacionalização das brigadas. Os cursos valorizam os conhecimentos tradicionais e promovem o diálogo intercultural acerca das práticas relacionadas ao manejo do fogo.
A aplicação das técnicas de MIF, como as queimas prescritas e a abertura de aceiros, antecede o período da estiagem de cada região, visando criar um cinturão de amortecimento em torno das Terras Indígenas para fins de contenção das chamas. O MIF é baseado em aspectos sociais, culturais e ecológicos das comunidades indígenas, promovendo o fortalecimento de técnicas de manejo ancestrais do fogo aliadas às novas técnicas e conhecimentos científicos na área.