Porsche, ordens de tortura e favor para major da PM: o retrato do Comando Vermelho na denúncia que embasou operação no Rio

Rio de Janeiro — A denúncia apresentada pelo Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ) revela um panorama da atuação da facção Comando Vermelho (CV) no Complexo da Penha, na Zona Norte do Rio, com indícios de torturas, hierarquia rígida de comandantes, ostentação de luxo e conluios com policiais militares. 

Estrutura e luxo

No topo da hierarquia da facção no Complexo da Penha, segundo o MPRJ, estariam Edgar Alves de Andrade (conhecido como “Doca” ou “Urso”) e Pedro Paulo Guedes (“Pedro Bala”), apontados como os principais líderes da CV na região. 
Logo abaixo deles figurariam Carlos Costa Neves (“Gardenal”) e Washington Cesar Braga da Silva (“Grandão” ou “Síndico da Penha”). Gardenal, por exemplo, ostentava armas de alto calibre, joias, dinheiro e um veículo de luxo (um Porsche Taycan) circulando no território controlado. 

Tortura, execução e controle comunitário

A denúncia apresenta evidências de práticas brutais:

  • Áudios em que o grupo ordena a execução de vendedores de drogas (“vapor”) por terem “perdido” carregamento. 

  • Vídeos e fotos mostram uma mulher dentro de um balde de gelo, acusada de “arrumar confusão no baile”; um homem algemado e amordaçado sendo arrastado por um carro. 

  • Uso de adolescentes para funções criminosas, inclusive próximo a estabelecimentos de ensino. 
    Essas práticas teriam sido usadas para aterrorizar moradores, manter o controle social e impedir ações contra o tráfico. 

Relação com policiais e sistema de proteção

Um dos trechos mais impactantes da denúncia indica que a facção mantinha “favor” com um major da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro (PMERJ).
Segundo a denúncia, esse oficial teria solicitado a Gardenal ou a Grandão a recuperação de um automóvel “subtraído”, que teria sido recuperado com auxílio da facção. 
Além disso, há menção de pagamento de R$ 15 mil para policiais liberarem um “moleque” da facção, segundo o documento. 
A PMERJ, em nota, afirmou que sua corregedoria “colabora integralmente com os procedimentos investigativos mencionados”. 

O contexto da operação policial

A denúncia serviu de base para a Operação Contenção, deflagrada em 28 de outubro de 2025 em comunidades controladas pela CV. 
A operação teve como alvo detenção de lideranças, apreensão de armas e encerramento de uma fase de ascensão da facção nessas áreas.

Implicações e desafios

O documento revela que a CV evoluiu de simples tráfico para uma organização com estrutura hierárquica, aparato de intimidação, presença de tecnologia (como drones ou câmeras de vigilância nas áreas controladas) e influências externas ao tráfico. 
Isso representa um desafio significativo para as forças de segurança: combater não apenas o tráfico tradicional, mas uma forma de dominação territorial com conivência e infiltração em instituições publicas.

Conclusão

A denúncia do MPRJ coloca em foco que o Comando Vermelho — no Complexo da Penha — opera com poder quase paralelo ao do Estado: com sua própria cadeia de comando, sistemas de punição, coação social, veículos de luxo como símbolo de poder e até acessos privilegiados junto à polícia local.
O caso representa um alerta para a complexidade do crime organizado urbano no Brasil, onde o enfrentamento exige não só ações na ponta, mas investigação, inteligência e ruptura de redes de poder que atuam lado a lado com a ilegalidade.

/ CNN