Israel lança panfletos ordenando saída de civis da Cidade de Gaza; moradores dizem não ter para onde ir

Por Nidal Al Mughrabi e Nayera Abdallah – Reuters

Cidade de Gaza – Palestinos que vivem entre ruínas receberam, nesta terça-feira (09/09), panfletos lançados pelo exército israelense ordenando a saída imediata da população, em meio a uma ofensiva militar que, segundo Israel, busca eliminar os últimos redutos do Hamas.

A ordem de retirada gerou pânico entre os moradores da maior área urbana da Faixa de Gaza, que antes da guerra abrigava cerca de um milhão de pessoas. Muitos afirmam não haver lugar seguro para se refugiar diante dos bombardeios e da grave crise humanitária.

O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, reforçou o aviso em pronunciamento:

“Eu digo aos moradores de Gaza: aproveitem esta oportunidade e me ouçam com atenção: vocês foram avisados — saiam daí!”.

Hospitais sob risco e deslocamento forçado

Autoridades de saúde anunciaram planos de retirar pacientes dos dois principais hospitais da Cidade de Gaza, o Al-Shifa e o Al-Ahli. Médicos, no entanto, afirmaram que não abandonarão os doentes. A população já foi deslocada várias vezes desde o início da guerra, em outubro de 2023, quando o Hamas atacou Israel, matando 1.200 pessoas e fazendo 251 reféns, segundo dados israelenses.

O contra-ataque israelense deixou mais de 64 mil palestinos mortos, de acordo com o Ministério da Saúde de Gaza. Grande parte do território está destruída e a fome se agravou nos últimos meses.

Israel orienta os moradores a se dirigirem para a chamada “zona humanitária” em Al-Mawasi, no sul, onde milhares já vivem em tendas — mas a região também sofre ataques aéreos. “A escolha é entre morrer em casa ou morrer no sul”, lamentou Um Samed, mãe de cinco filhos.

Escalada militar e ameaças

O ministro da Defesa israelense, Israel Katz, prometeu desencadear um “furacão poderoso” contra Gaza caso o Hamas não liberte os reféns. Israel mobilizou dezenas de milhares de reservistas para uma possível ofensiva terrestre, embora ainda não haja data confirmada para o início da operação.

Segundo os militares, 40% da Cidade de Gaza já estaria sob controle de Israel. Analistas afirmam que a intensificação da ofensiva pode prejudicar as negociações de cessar-fogo em andamento.

Pressão internacional

O Ministério da Saúde de Gaza fez um apelo à comunidade internacional para proteger hospitais e evitar “uma catástrofe humanitária que ameaça a vida de milhares de pacientes”.

Enquanto isso, países europeus anunciaram que pretendem reconhecer oficialmente o Estado palestino ainda este mês, durante a Assembleia Geral da ONU em Nova York — decisão criticada por Israel e pelos Estados Unidos.

Organizações internacionais alertam que o plano israelense de assumir o controle da segurança em toda a Faixa de Gaza pode agravar ainda mais a crise vivida pelos 2,2 milhões de palestinos da região.

G1 / Liberdade FM