Setores calculam prejuízos com tarifaço de Trump e pedem medidas emergenciais ao governo brasileiro

Setores da indústria brasileira já contabilizam os prejuízos provocados pelo tarifaço dos Estados Unidos e pressionam o governo federal por medidas para amenizar os impactos. O decreto assinado nesta semana pelo presidente norte-americano Donald Trump elevou para 50% as tarifas de importação sobre diversos produtos brasileiros, como carnes, café, móveis e máquinas. Embora o texto traga uma lista de 700 exceções, segmentos estratégicos como o aeronáutico, energético e parte do agronegócio foram poupados, enquanto a maior parte da indústria nacional permanece afetada.

O vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) informou que cerca de 35,9% das exportações brasileiras aos EUA serão impactadas pela nova alíquota. A Câmara Americana de Comércio para o Brasil (Amcham Brasil) estima que o tarifaço pode atingir cerca de 10 mil empresas exportadoras, que empregam aproximadamente 3,2 milhões de trabalhadores no país.

Setores calculam perdas bilionárias

Diversos segmentos divulgaram estimativas de prejuízo com a medida:

  • Carnes: a Abiec estima perda de US$ 1 bilhão na exportação de carne bovina.

  • Café: responsável por 34% do mercado dos EUA, o setor projeta redirecionamento da produção, mas com desafios.

  • Frutas: manga, uva e açaí representam 90% das exportações para os EUA e estão sob risco, segundo a Abrafrutas.

  • Máquinas e equipamentos: o setor vendeu US$ 3,6 bilhões aos EUA em 2024 e teme perda abrupta de mercado.

  • Móveis: a Abimóvel calcula que a sobretaxa pode causar a perda de até 9 mil empregos.

  • Têxteis e calçados: ambas as indústrias projetam danos irreversíveis e risco direto ao emprego.

  • Outros setores afetados: pescados, aço, plásticos, químicos, tabaco, pneus, açúcar e etanol.

Medidas emergenciais solicitadas

A Confederação Nacional da Indústria (CNI) e outras entidades entregaram ao governo federal uma série de propostas para atenuar os efeitos da medida norte-americana:

  • Linha emergencial de crédito do BNDES com juros entre 1% e 4% a.a.

  • Prorrogação de prazos de pagamento de financiamentos de exportação (como PROEX e BNDES-Exim)

  • Adiamento por 120 dias de tributos federais

  • Reativação do Programa Seguro-Emprego

  • Ampliação do Reintegra, que ressarce tributos residuais da exportação

  • Pagamento imediato de créditos tributários acumulados (PIS/Cofins e IPI)

A Abicalçados pediu crédito para cobrir perdas com contratos de câmbio, a liberação de créditos de ICMS e a reedição do Benefício Emergencial de Preservação do Emprego e da Renda (BEm), criado na pandemia. Já a Abipesca sugeriu uma linha de crédito emergencial de R$ 900 milhões, com seis meses de carência e 24 meses para pagamento, para evitar o fechamento de indústrias pesqueiras e perda de até 20 mil empregos.

Outras entidades, como a Abiquim (químicos), Abit (têxteis), Abiplast (plásticos), e SindiTabaco (tabaco), reforçaram os pedidos de medidas fiscais, linhas de crédito e renegociação de dívidas com urgência.

Governo prepara resposta

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou nesta sexta-feira (1º) que o governo federal está finalizando um plano de proteção aos empregos e aos setores mais afetados. As medidas devem incluir linhas de crédito específicas para empresas atingidas, além da possibilidade de recriar políticas semelhantes às adotadas durante a pandemia da Covid-19.

"Já estamos encaminhando ao Palácio do Planalto as primeiras medidas. Vamos analisar caso a caso", afirmou o ministro. Haddad também garantiu que os auxílios previstos não ultrapassarão o teto de gastos estabelecido no arcabouço fiscal.

Enquanto isso, setores como frutas, carnes, café, pneus, aço e tabaco defendem a continuidade do diálogo com os EUA, com o objetivo de incluir novos produtos na lista de exceções ou buscar soluções negociadas para reverter ou amenizar o tarifaço.

Fonte: G1

Redação: Liberdade FM