Abandono de patrimônio natural: maior cratera de meteoro da América do Sul sofre com descaso em MT

O Domo de Araguainha, localizado entre Mato Grosso e Goiás, é considerado um dos maiores tesouros geológicos do planeta. Formado há cerca de 245 milhões de anos pelo impacto de um asteroide de 4 km de diâmetro, o local abriga a maior cratera de meteoro já identificada na América do Sul, com 40 km de diâmetro e cerca de 1.300 km² — uma área maior que a cidade do Rio de Janeiro. No entanto, pesquisadores denunciam o abandono da região e a ausência de ações efetivas de preservação por parte do poder público.

Reconhecido pela Unesco desde 2022 como um dos principais geossítios do mundo, o Domo de Araguainha está praticamente esquecido. De acordo com especialistas, o centro da cratera, em Araguainha (MT), apresenta mata alta, ausência de sinalização turística e restos de animais mortos, evidenciando o descaso com um patrimônio de valor incalculável para a ciência e o turismo.

A estrutura geológica do local é única: camadas de rochas invertidas, brechas formadas pelo impacto, cones de fragmentação (shatter cones) e formações que revelam a violência da colisão cósmica. Descoberta por pesquisadores norte-americanos em 1973 e confirmada por estudos do professor Álvaro Crósta, da Unicamp, em 1978, a cratera é uma verdadeira cápsula do tempo da história geológica da Terra.

Apesar da importância, pouco foi feito desde então. Em 2024, o Ministério Público Federal (MPF) pediu ao Ministério de Minas e Energia e ao Serviço Geológico do Brasil (SGB) estudos para transformar a região em um geoparque. As pesquisas de campo foram realizadas no início deste ano, e os estudos devem ser concluídos até julho de 2025. Segundo o MME, o atraso se deu pela inclusão de contribuições técnicas de pesquisadores e universidades.

Além do abandono, outra preocupação é a construção da rodovia MT-100, que cruza o centro da cratera e teria destruído formações rochosas utilizadas em pesquisas sem qualquer medida de proteção ou documentação. O inquérito que apura os danos segue em andamento.

Moradores e cientistas relatam que não houve nenhuma medida concreta para a preservação da área. O geólogo Rogério Rubert, da UFMT, afirma que a universidade tem prestado apoio institucional de forma voluntária e informal. Já o morador Ruy Ojeda, de Ponte Branca (GO), denuncia que nem mesmo as promessas feitas durante visitas técnicas do MPF — como a instalação de um quiosque e corredor cercado — foram cumpridas.

Com 15 geossítios catalogados, o futuro Geoparque de Araguainha poderia abrigar trilhas, cavernas, cachoeiras, fósseis e formações únicas no mundo, impulsionando o turismo e a economia da região. No entanto, sem estrutura, a maioria dos brasileiros sequer conhece a existência desse monumento natural.

Enquanto o tempo passa e as estruturas se degradam, especialistas seguem pedindo atenção ao que deveria ser motivo de orgulho nacional: a maior cratera de meteoro da América do Sul, um verdadeiro museu a céu aberto, que permanece ignorado.

Fonte: G1 MT

Redação: Liberdade FM